Eu não encontro pessoas que me conhecem porque acompanham meu trabalho na internet — já começo deixando isso claro. Nem sei dizer bem por qual motivo. Não é algo que racionalizei. Eu simplesmente afasto, evito conscientemente que aconteça, mesmo sem saber conscientemente porque. Isso não quer dizer que eu não faça amigos. Traço os limites e alguns permanecem pela amizade. Mas claro, tem os insistentes, esses eu mando pro vácuo. Não é nada pessoal, quer dizer, é completamente pessoal. Digamos que é um momento da minha vida no qual eu cansei de colocar pessoas dentro dela. É por isso também que não entro em aplicativos de encontros, que não encorajo nenhuma paquera, etc. Estou cansada de me envolver emocionalmente com as pessoas. Podem me julgar.
Esse rapaz, que chamaremos de P, no caso, era um dos insistentes, dos que vão pro vácuo. A primeira coisa que ele me escreveu, foi perguntando se eu queria morar com ele, que a casa dele tinha bastante espaço para que eu usasse como ateliê. Imaginem, meu maior problema atual, como todos sabem, é a moradia. O rapaz vem e manda uma dessa. Eu respondi com uma gargalhada e tchau, foi parar naquele limbo que já mencionei. Ele, como era dos insistentes, continuou: “então, nos vemos amanhã?”, uns dias depois: “Quando vamos nos encontrar, mesmo?”, depois: “Um encontro real, po”, e assim por diante. Eu finjo de morta. De repente ele parece entender… E é aqui que minha vaidade me trai. Depois de uns dias desaparecido, quando ele surge de novo, respondo com um emoticon de sorriso passivo-agressivo :) Eu quero dizer que sim, estou ali lendo tudo, sim, ele me faz rir… Mas pelo amor de Deus, é só um sorriso. São sinais nada confusos sobre a falta de interesse, certo? Bom, vocês já entenderam a dinâmica.
Porém um dia, esse “P” específico, me pegou no meu calcanhar de aquiles, a saber: dinheiro. Eu posso justificar astrologicamente dizendo que sou capricorniana com ascendente em capricórnio (o que sou) mas vou poupar vocês disso, e resumir num simples e sonoro: eu amo dinheiro. Quando eu anunciei que estava pensando em criar um OnlyFans ele escreveu: “Opa, tenho equipamento fotográfico, caso você queira fazer as fotos, etc”. Pois bem, foto é a base do negócio se eu quiser criar uma empresa dessas. Em teoria, boas fotos me darão bom dinheiro. Mal ele terminou de digitar já respondi prontamente: VAMOS. Assim mesmo, em caps. Todo o resto foi rápido. Combinamos o dia, eu apareci lá arrumadinha, com lingerie e garrafa de vinho, no alto de Santa Teresa. E se ele fosse um psicopata? Você pode estar se perguntando. É… Isso também passou pela minha cabeça, mas não dei muita importância.
O que eu não esperava mesmo era chegar lá e encontrar um menino muito lindo. Como se não bastasse ser lindo, tinha o trato fino e educado, uma voz suave, um olhar meigo… Parecia um sonho, dentro do clichê santatereser completo: violão no canto, playlist tocando Erasmo Carlos e todo o essencial mpb do Spotify. O plano era simples: colocar a lingerie, fazer umas poses sexy, deixar ele fotografar e, quando ele ficasse muito louco, permitir que ele me tocasse. Mas o que! Trocamos os cumprimentos, oi, como vai, tudo bem?! E eu agarrei o garoto.
A partir daí: sexo selvagem. Tapa, cuspe, no chão, no sofá, de quatro, ele gozou. Tomamos banho… Conversamos nus e bebemos um pouco mais de vinho, só então lembramos das fotos. Ele pegou as câmeras, o tripé, o refletor e em pouco minutos já repetimos tudo novamente. Tapa, cuspe, no chão, no sofá, de quatro, etc. Ele gozou de novo. Acho que ele gozaria outras vezes se eu quisesse transformar ali um menino lindo, numa mulher de orgasmos múltiplos. Mas eu já tinha o que eu queria e chamei o uber para casa, triplamente satisfeita.
Depois disso, a troca de mensagens de praxe. Ou seja, muito poucas, porque eu não sou do tipo que se comunica bem — mas isso é outra história para outro texto. Acontece que fiquei esperando as fotos, senão não teria percebido que ele sumiu. Mas três semanas depois, eu estava decidida a abrir o Privacy e tive que ir atrás das fotos. Principalmente porque todas as minhas amigas me falaram que eu provavelmente teria caído num golpe e que agora, o menino lindo da voz suave, do trato fino, tocando gente aberta é gente certa se o amor me chamar bla bla bla, tava faturando com meu material. Procurei ele querendo saber se eu era tão desinteressante assim para ele sumir, ou se ele tinha voltado com a ex — ele tinha mencionado uma ex, numa das conversas entre-sexo que tivemos. Ele respondeu dizendo que sou linda e gostosa e etc e que sim, ele tinha voltado com a ex.
Como assim as pessoas voltam com alguém que já decidiram que não dá mais certo? É uma coisa que eu não entendo. É algum tipo de negociação? Sei lá, eu sei que do jeito que eu estava no sofá, eu encolhi as pernas pra posição fetal e comecei a chorar. Chorar sem saber porquê… Por uma ideia, certamente, não por algo real. Depois de uma hora, eu ainda estava relendo as mensagens que havíamos trocado, onde tinha escrito: “voltei com a ex”. E respondi, absurdamente perguntando se por acaso ele queria que eu ficasse esperando por ele. Por um momento, me ocorreu que eu poderia ficar esperando enquanto ele se (des)entendia com a ex. Depois chorei um pouco mais por ser capaz de escrever algo tão patético. Quanto mais eu pensava no porquê de estar chorando, mais eu chorava. Doia no peito a lembrança do sexo tão gostoso, de todo o tesão que senti… E que não existiria nunca mais, não nessa vida. Quando as pessoas separam e voltam assim, já é para constituir família, casar e ter filhos, pensei. Acabou. Acabou antes mesmo de começar, era isso que doía. Eu sabia que dali a pouco, quando chegasse a noite, eu iria desviar minha atenção para outra coisa e esqueceria essa história para sempre. Mas enquanto doía, que raiva que me dava ter deixado, outra vez, mesmo que brevemente, alguém entrar na minha vida e espalhar suas merdinhas nela.
As fotos, a propósito, nunca chegaram. Ele disse que apagou tudo. Sei.
Amei a crônica, Sy!
mas as fotos.. 😭